Do cheiro de isqueiro.
Conheci uma menina tão bonita que quis colocar em exposição. Dentro de um vidro, para ninguém danificar, mas vidro claro e lúcido, para todos verem. Será que foi algo que eu fiz, algo que eu comi? Não sei responder por quê, mas ela me faz ver as coisas amareladas, como dentes de vampiro cheios de sangue se fechando e não prejudicando ninguém. Olhos cheios d’água, estômago vazio, e eu estou com ela. Cantando músicas e dançando com um cigarro meio colado na boca, que eu não trago muito, mas fumo afinal. Ver o mundo como quem me vê. Eu digo o tempo inteiro, que gosto dela, mas não sou dela. Ela sabe que é como uma roda gigante, e estamos no topo. Ela sempre teve alma de pássaro e pousava nas mais belas árvores. E veio parar em cima do meu telhado, imagine! Como é que se alimenta um pássaro com chocolate e cigarros? Tenho medo de tudo que eu tenho para oferecer seja apenas um pequena partícula do que o mundo pode dar. Mas, afinal, ela pode ir embora quando quiser, e leva o chocolate junto que sem ela não faz mais sentido.