Sobre três noites seguidas sem dormir
se eu fechar os olhos, arde.
arde
como se fosse sono.

e faz frio
aqui no meu casulo
feito de cobertores
onde eu me escondo
como se os fantasmas (em quem eu não acredito)
fossem ter medo
de um pouco de pano.

e vou ditando
pausadamente
a minha morte, detalhando
os dias e horas e minutos e segundos e dores e
eu nem sei mais o que
estou fazendo aqui
falando
assim
pausado

fazendo
assim
versos
como se um verso fosse apenas uma coisa que a gente faz
e não uma coisa que a gente nasce.

e arde tanto
que eu quero ficar de olhos fechados para sempre
mas está tão escuro
que preciso vigiar as sombras
porque elas podem me engolir

eu, que sou tão errada
e pequena
e tão medrosa
frágil
e sombria...

(vou lá eu ter medo de sombras? ah, ironicamente, sim.)

então eu fecho os olhos
e rezo
para o deus de mim mesmo (eu)
conseguir dormir.

com os anjos ou com as aranhas.