A primeira (de muitas) vitória
Ela era bonita. Era, mesmo, bonita: não eram só meus olhos (de mãe) que a esculpiam assim, e sim a opinião unânime de todos para quem a apresentei que entendessem que ela não era mais só um rostinho com um sorriso. (Ufa, que sentença longa). E, falando em lábios, ela brincava com os sorrisos, fazendo acrobacias... Toda manhosa, esticando os braços e pernas. Bem felina, bem ferina. Talvez não felina o bastante para miar nem ferina o suficiente para que machucasse, mas decerto era uma mistura dessas duas palavras cheias de suco. Acendia um cigarro nem-tão-forte e brincava com ele, talvez o mastigasse um pouco, deixando-o ―quase sempre ― molhado. Gostava de café, também, apesar de não gostar da fama que adquiria por isso. Melava as luas com açúcar, sorria e me dizia que gostava desse jeito, nem tão doce, nem tão amargo: balanceado.
Escutava David Bowie e The Killers porque sente que de algum modo deve ouvir isso. Gosta de uns bons riffs na guitarra, mas solos de piano a traduzem de modo incomparável. Vai ver ela nasceu antitética... Ou talvez seja só assim que ela complete a si mesma. Acho que ela tem medo de que a vida dela se torne uma bola de neve que a engula. Deve ter medo de ser uma bola de neve e engolir os outros, também.
Mastigou-me uns segundos, algumas vezes, mas sempre me cuspiu para fora e sorriu depois. Nunca engoliu. Quiçá é assim que ela demonstra afeto, mastigando as pessoas e pedindo desculpas com um cigarro e um abraço apertado depois. Não tenho muita certeza. Eu não a conheço como eu gostaria de conhecer, embora eu pertença a ela como uma febre que queima mais que o Sol.
Já teve a pele queimada de Sol, já foi pálida, já foi ruiva e loira. Depende do jeito que você olha para ela. Para mim é como um caleidoscópio, muda em questão de segundos e não há nem tempo de admirar todas suas faces.
Ela era bonita, ou talvez ainda seja.