Da beleza de inexplicar o explicável.
Fazia uns dias que eu tinha adquirido essa mania de respirar bem fundo. Como se fosse para me livrar das impurezas que ronronam nos meus brônquios. Expulsá-las e colocar em seu lugar os gases nojentos que empesteiam essa cidade que eu tanto amo. Não sei por que, eu devo achar que eles são mais dignos (e eu digo “devo achar” porque não sei se acho, ou tenho certeza que acho mas também tenho outras convicções contraditórias na minha mente metalinguística e matemática. não é só força de expressão). Eu deixei também os suplícios desesperados recheados de ausência de orgulho para trás, mas peço, leitor, que acredite que estou confusa.

E o vocativo “leitor” também me é estranho. Antes, apesar de tudo, acho que eu escrevia para mim, porque eu tinha algo a dizer em que eu precisava acreditar. Mas nesse momento, apesar de ainda existirem palavras que rodam em algum gira-gira imaginário e mergulham em seus próprios corpos dentro do meu organismo, eu não tento (simplesmente porque não preciso) arrancá-las urgentemente de dentro de mim para poder vê-las e senti-las nas pontas do meu cabelo curtinho. Não sei mais redijo essas letras para autoconhecimento ou para simples ostentação.

Se for por ufania, é uma que eu não conhecia antes: de um tipo sutil.

É engraçado. Não quero soar como um charlatão velho fumando charutos, mas a gente não sabe de nada. Nem sobre nós mesmos. Não quero soar como um breve livro de autoajuda que custa 45 reais e não tem conteúdo algum, mas sim, eu não me conheço e foda-se, porque eu não me importo e essa indiferença não é amarga e sim cotidiana. Eu ando descobrindo tantas coisas que eu julgava minúsculas ou até mesmo inexistentes e é isso que me confunde. O tempo. A inércia. A mudança (mas não a vida).

O problema também é que minha mente se embaralha tanto com essas novas filosofias e métodos que eu não sei muito bem por que caminho eu devo seguir. Por um lado aquilo que sempre me foi certo continua bastante sólido, mas existem tantas outras coisas que pulam à minha visão... Não, eu não quero desmerecer a poesia. Mas é preciso saber ver beleza numa equação matemática também.

Analisar a mim mesma tem sido diferente, também. Como se eu preenchesse um gabarito de um teste sem me preocupar muito com o resultado. Quando se preocupa em acertar, as alternativas se limitam. Quando não, existem A, B, C, D, e E possibilidades e todas eles merecem ser observadas com a mesma atenção e carinho. A vida não é um vestibular e acertar muitos pontos nela nunca foi sinônimo de sucesso.

Talvez eu querer me livrar das minhas impurezas respirando fundo seja uma busca por melhora. Talvez seja a falta de autoconfiança que me faz pensar que até a poluição da cidade é melhor que os restos da minha alma. Talvez a explicação seja meramente biológica e não queira me livrar de nada: eu simplesmente deva parar de fumar.

Eu não sei. E aprendi não só a viver com essa incerteza, mas também a amá-la.