Vômitos Aleatórios
Já é a terceira vez que eu apago essa folha de cor peculiar para borrar as palavras antes gravadas. A dificuldade de transcrever é evidente. Mas eu fico assim, quieta, só sorrindo e olhando para o conjunto de corações no cabeçalho. Antes eram só desenhos! Permita-me dizer também que agora eles dançam, e vem saindo, e quando saem sorriem como se tivessem entrado. Entrado em mim! Pequenos corações pulsando em meus pulsos e poros, cada um me dizendo um nome, mas no fim todos eles são sinônimos.
Ir além. A chave é decodificar os pensamentos. Olhar para cima e achar a resposta, porque essa coisa de embaixo do nariz é mentirinha, a resposta mesmo está sempre acima de nós, flutuando e fundindo-se, bem azul, se escondendo no céu. E eu vou passarinhando por esse céu, comendo as partículas de Tudo com meu bico que é boca sem deixar de ser bico. E é possível? Oh, é sim! A nação inteira, verde e amarela e de todas as outras cores, vem me dizer que pode ser e poder ser independente da pergunta. Mas nunca é, e sim está, porque “possível” é e não é ao mesmo tempo; os antônimos dão as mãos brincam: quem rir primeiro, perde. Possibilidade é um jogo que é amigo do acaso. E a vida? Ah, ela também.
Mas tudo bem, eu digo para mim mesma, tudo vem se a palavra escapar e não souber o caminho de volta, aposto que o planeta cuida melhor dela do que eu jamais fiz. Porque falar é ser filho do mundo, as letras vêm e só voltam quando querem. Rebeldia e desapego... Ou sei lá, o nome não importa.
Nome, nome, isso de nome é engraçado. Eu distribuo vários pelo mundo, e para mim sobram também. Do que eu me chamo? O que eu me quero? É preciso procurar as evidências de que eu existo em cada simples grão de poeira porque eu preciso que ele ― e eles ― saiba da minha vida que corre como rio também. É necessário (eu necessito!) fazer-me entender através das minhas imagens de luz de neon, das minhas simbologias repetidas e engasgadas.
Ou então vou somente engolir a Vida, como uma criança que coloca mais doce do que consegue mastigar na boca, na ânsia de tornar aquilo seu.
É o que me resta.