Sobre a dor constante
Escrevo a lápis porque a idéia de ser sempre igual me atormenta mais até que meus pesadelos transcritos aqui, numa folha demasiadamente decorada, contrastando com a simplicidade áspera das minhas palavras. Tenho confissões que necessitam sair de mim, tenho planos que precisam dar errado. Seria tudo mais fácil se fosse homogêneo. Bastaria fotografar, click click, e daí já desenrolar-se-ia  a mais confusa porém compreensível das histórias. Acho que tenho que parar de me concentrar no “se” e passar a ler meu próprio destino calmamente. Eu devoro as palavras, na ânsia de sair logo de onde estou, tentando em poucos segundos decifrar milhares de frases que pulam em minha cabeça, extremamente infantis em minha caligrafia miúda. Devo ler tudo devagar, esperado as palavras efervescentes derreterem na água antes de saboreá-las. Mas fui nascer curiosa e ansiosa, justo eu fui nascer vestida em milhares de defeitos, logo eu fui ser... eu.

Mergulho nisso tudo como se fosse ficção, mas não há escape. É como ser consumida por milhares de insetos, fui pega por um encame de abelhas na hora em que colocava o mel na boca. E agora esse mel é amargo, tem o gosto do arrependimento. Como se ser feliz fosse sinônimo de infelicidade. E é?

Não vejo como tudo isso pode me fortalecer. O máximo que engulo do futuro é uma versão de mim com cabelo mais claro e totalmente apática à vida. Não é isso que desejo, também. Quero me livrar dessa angústia coberta de sorrisos de velhos e ratos com caudas longas e vermelhas. Mas ainda quero os sorrisos e os ratos.

Será que é possível? Será que não é um insulto?

Escrevo a lápis porque tenho medo de ser lida, ser percebida nessa dor pelos outros é um tormento indescritível. E então vem a vida e me apaga. Como sempre... Como sempre.