Sobre fingir recitar poemas
Uma vez fizeram-me ler lá na frente
numa dessas aulas de literatura
Ora, é um indescritível insulto!
isso de arrancar brutalmente de mim
o que, sem dúvida, ao papel pertence.
Levantei-me, vagarosa, cheia e dura
passando, muito semelhante a um vulto,
por aquelas carteiras brancas sem fim
Fiz logo o que a professora mandou
recitei enquanto toda a classe via,
em uma distração visível e extrema,
escapar da minha boca caprichosa
o erro de ser eu, o meu maior tormento.
E ninguém percebeu ou adivinhou
que tudo o que dos meus lábios saía
não era rima e muito menos poema
Honestamente, eu ditei foi uma prosa
Mas, ainda pior!, eu disse um pensamento.