7 (ou mais)
Era como tons arco-íricos expostos e abertos à visitação. Talvez escondessem um pote de ouro no seu fim. Eu nunca soube. Minha limitação fez-me só olhar, de longe, às vezes seguir com os olhos ― ou talvez com algo mais. Sempre tentei fotografar tudo, já que você era meio ilusório e metade ilusão. Água e sol, ou mar e céu... Antagônico. Penso que talvez você fosse preto e branco, listrado ou quem sabe até pontilhado. Só, apesar dos ditos, não era de um tom só. Isso eu podia ver! Não era, não era, não era.
Que estava lá, ninguém poderia negar. Entrada grátis. Um museu sem muito nome, esquecido entre duas avenidas em constante colisão. De pintura duvidosa ― e isso disfarçava tão bem os seus anis: quem, em sã consciência artística, decoraria um museu tão mal? Havia algo em você que parecia agir feito ímã nos outros: repelia. Coisa que nunca entendi, também, já que pólo igual àqueles outros quadros que eu via ao meu redor você não tinha. Quiçá seja mais uma daquelas questões de gosto... Não sei também se poderia julgar: quem gosta desgosta do gosto geral.
Suas cores internas iam, uma a uma, sendo dispensadas diariamente, embaladas no rótulo de feias. Num rótulo feio. Mal sabia a sociedade da honestidade e sentimentos que fluíam e pipocavam por dentro de suas paredes. Ou até mesmo esbarravam na janela, querendo sair. Vem-me à mente um movimento ativo e inconstante, porém eu sei que tenho mania de identificação, ou talvez de admiração: sou eu tentando me projetar em você. Contraditório. Água e céu, sol e mar, eu e você.
Como se o eu realmente importasse.
Bastante abstrato, você. Meio sorridente, meio chorante. Mas sólido. Às vezes me aparecia com janelas sujas depois das lágrimas e lamentações chuvosas. E, mesmo que vazio de visitantes, mantinha as portas abertas. Eu bem sabia! Domingos e feriados. Todo dia, das 7 às 16h. E eu descansava ao te ver. Eu descansava ao poder te ver, ou ao saber das suas cores, dos seus quadros... Incerto esse pensamento, mas quem sabe eu simplesmente não sorrisse por desprezar essa falta de concreto e te sentir tão bem assim.
Ou te pintar. Ou me pintar. Nos pintar? Acho que já somos pintados... Por quem? Quem é que foi que fez assim? Por que eu? Por que você? Por que só você?
Talvez só eu te visse colorido. Talvez só eu quisesse te ver. Talvez você quisesse que só eu te visse. Só eu. Por quê?
Faz diferença? Eu vejo. E ponto.