165.000 RPM.
Feche os olhos. O que você vê?

Vejo um grande espaço. Preto... Branco. Não está dentro da minha capacidade definir. O ar se torna mais rarefeito e, simultaneamente, mais palpável. Convido-te a sentir as moléculas tocando seus dedos, dançar como um pássaro que iça vôo por simples e puro ócio. Ócio, tédio, ócio...

Olha, olhe! Agora o lugar se invade por cores. Como um mar de tintas, todas misturadas, manchando o chão, cobrindo tudo sobre você... Se você prestar atenção, quiçá consiga separar um turquesa do resto, mas seria impossível saborear todas as cores. O RPM é muito alto...

Espie através das pálpebras. O mundo parece uma fada sem asas, não é? Tão depreciada pela pressão atmosférica que nem ao menos evaporar consegue... Vista a luz do dia, é tão cinzenta, sem o brilho azulado que uma vez nos encantou quando crianças. Nostalgia. Porém, talvez, ela ainda possa ter os dedos leves para massagear nossas têmporas. Será que você sabe onde ela está?

 Volte àquele lugar imaginário, agora transparente. O conhecimento de nossa decadente condição arrancou de mim todas as cores caleidoscópicas que antes giravam, tão utópicas e inocentes. Minha dose de alucinógenos.  Feche os olhos novamente. Sabe o que eu vejo?

Eu enxergo, em cada milímetro desse mundo, uma chance de escolher uma das cores e recomeçar. Do começo, mesmo. E quantas vezes forem necessárias.